O refluxo gastroesofágico define-se como a passagem do
conteúdo gástrico para o esôfago,na ausência de vômitos.
É um evento freqüente que, na maioria dos adultos,
ocorre regularmente, a seguir às refeições, em pequena
quantidade.
O refluxo torna-se patológico quando, pela sua
intensidade, freqüência, natureza ou outros
condicionalismos, é susceptível de desencadear sintomas
e/ou provocar lesões da mucosa esofágica (revestimento
interior das paredes do esófago) ou, ainda,
manifestações extra-esofágicas.
Quando o refluxo gastroesofágico é causa de sintomas,
como a azia, ou de lesões da mucosa esofágica, estamos
em presença de uma doença de refluxo gastroesofágico (DRGE),
vulgarmente conhecida como esofagite de refluxo.
Trata-se de uma situação muito frequente - a prevalência
de sintomas de esofagite de refluxo, no mundo ocidental,
situa-se entre 12 e 54%.
Quais as causas?
A DRGE resulta de um desequilíbrio entre os fatores de
defesa e os fatores de agressão da mucosa esofágica.
Nos fatores de agressão incluem-se:
. Alguns alimentos (produtos derivados do tomate, sumos
de citrinos, chocolate, bebidas com cafeína)
. Tabaco
. Bebidas alcoólicas
. Alguns medicamentos ( nitratos, estrogénios,
contraceptivos orais, bloqueadores dos canais de cálcio,
alendronato, etc)
. Conteúdo ácido do estomâgo
. Refluxo biliar
Outros fatores:
. Hérnia do hiato - situação em que uma porção do
estômago, através do diafragma, para a cavidade
torácica; só por si não leva à DRGE, mas as duas
condições estão frequentemente associadas e a presença
de uma hérnia do hiato poderá levar à disfunção do
esfincter esofágico inferior, aumentando o refluxo
. Aumento da pressão intra-abdominal (roupa apertada,
gravidez, tosse, obesidade, exercício físico súbito que
aumente a pressão intra-abdominal, obstipação).
Quais são os sintomas da doença de refluxo
gastroesofágico?
. Azia - é a manifestação mais frequente da DRGE,
consistindo numa sensação de queimadura no meio do
peito, que pode irradiar em direcção ao pescoço, que
aparece geralmente menos de uma hora após as refeições e
que se pode agravar na posição de deitada ou inclinada
para a frente
. Regurgitação - sensação de que os alimentos voltam à
boca, sem esforço de vómito
. Dor à deglutição dos alimentos
. Dificuldade em deglutir os alimentos
. Dor torácica - dor na região retroesternal, de origem
não cardíaca
. Outras - tosse, falta de ar, rouquidão, dor de
ouvidos, gengivite
A DGRE pode ainda manifestar-se por anemia por carência
de ferro ou, mais raramente, por vómitos com sangue.
Nalguns casos poderão surgir complicações, como as
úlceras, as estenoses e a transformação da mucosa
esofágica em revestimento de tipo intestinal (esófago de
Barrett).
Como se diagnostica?
O diagnóstico da DRGE baseia-se na avaliação dos
sintomas e do exame objectivo, podendo ser complementado
pela realização de exames que incluem:
. A endoscopia alta
. A radiografia do esófago, estômago e duodeno
. A pH-metria das 24 horas - permite o registo do pH
esofágico durante as 24 horas.
Como se trata?
Medidas gerais:
. Refeições pequenas
. Evitar alguns alimentos: gorduras, chocolates,
citrinos, refogados à base de tomate
. Evitar alimentos que causem os sintomas
. Evitar bebidas gaseificadas
. Evitar bebidas com cafeína
. Evitar comer nas 2 a 3 horas que precedem o deitar
. Não fumar
. Tentar emagrecer
. Não usar roupa apertada
. Evitar actividades que aumentem a pressão
intraabdominal logo após as refeições (por ex.
jardinagem)
. Elevar a cabeceira da cama cerca de 15 centímentros
(colocar um taco de madeira, por exemplo, debaixo dos
pés da cama, do lado da cabeceira).
Medidas farmacológicas:
Atualmente o tratamento da DRGE baseia-se em
medicamentos que inibem de forma profunda e duradoura a
secreção ácida do estômago. Estes medicamentos estão
incluídos num grupo designado por inibidores da bomba de
protões.
É uma situação crónica?
A DRGE é uma situação crónica, tornando necessária, em
muitos casos, uma terapêutica de manutenção prolongada
para evitar e recidiva dos sintomas e/ou das lesões do
esófago.
Há tratamentos alternativos?
Os avanços tecnológicos na área da endoscopia tornaram
possível o tratamento da DRGE, o que atualmente já é
feito em alguns centros especializados. Outra
alternativa, em alguns doentes, é a cirurgia
anti-refluxo, que hoje em dia se pode fazer por via
laparoscópica.
A doença de refluxo gastro-esofágica é uma situação
grave?
Na maioria dos casos trata-se de uma afecção benigna,
facilmente controlável com terapêutica médica associada
a medidas gerais. Alguns doentes têm uma esofagite mais
grave, que poderá requerer uma vigilância clínica ou
endoscópica mais apertada e medidas terapêuticas,
médicas ou cirúrgicas, adequadas. |